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A importância da Solidariedade Intergeracional

  • Fátima Garcia
  • 27 de jun. de 2016
  • 7 min de leitura

Abordando a questão do envelhecimento, Costa (2002:37) explica-o como “processo experiencial subjetivo, que pode definir-se como a autorregulação exercida através de decisões e escolhas para a adaptação ao processo de senescência”, adicionando um novo conceito à definição de envelhecimento: a senescência. Como tal, “o envelhecimento é um processo segundo o qual, o organismo biológico, tal como o corpo humano, existe no tempo e muda fisicamente, sendo que da senescência resulta um aumento da vulnerabilidade e a probabilidade de morte”. Na inexistência de uma base fisiológica, psicológica, ou social que marque o seu início, o envelhecimento exprime uma diminuição das capacidades de adaptação ao meio e às agressões da vida. Para Paillat (1986), o processo de envelhecimento é dinâmico, normalmente lento e progressivo, mas individual e variável, heterogéneo, inevitável e irreversível. As pessoas não envelhecem da mesma forma nem no mesmo espaço temporal.


O processo de envelhecimento, carece de um envelhecimento ativo, que compreende a cidadania plena, otimizando oportunidades de participação, segurança e maior qualidade de vida à medida que as pessoas vão envelhecendo. É o abandono de uma visão reativa, focada em necessidades básicas e onde a pessoa é agente passivo, passando para uma visão pró-ativa, que reconhece a pessoa como um elemento capaz e agente no processo político e mudança positiva das sociedades. Este envelhecimento ativo impõe uma abordagem multidimensional, constituindo um desafio para toda a sociedade, envolvendo a responsabilização e a participação de todos, no combate à exclusão social e à discriminação, na promoção da igualdade entre homens e mulheres e da solidariedade entre as gerações (Ano Europeu do Envelhecimento Ativo e da Solidariedade entre Gerações, 2012). Independentemente da idade, todos podem desempenhar um papel na sociedade e usufruir de boa qualidade de vida. Um envelhecimento ativo e saudável promove a autonomia e baseia-se em duas premissas: prevenção do isolamento social e da solidão das pessoas idosas. A qualidade de vida e o bem-estar estão interligadas com o convívio, atividade familiar e o sentir-se útil. (Carneiro et al, 2012)


A perceção de falhas nas relações sociais traduz-se em solidão, em resposta ao défice de quantidade ou qualidade nessas relações. Essa solidão, resulta da discrepância entre o desejo dos indivíduos e a realidade vivida (Peplau, Miceli e Morasch, 1982). Para Berguno et al (2004), a solidão não surge tão somente por um desejo de companhia, e como tal não poderá ser consertada apenas pela presença constante de pessoas, pois é a falta de algo mais profundo do que a simples presença de pessoas. A falta de atividade social pode intensificar o sentimento de solidão, já que esta carência destaca a ausência de interações significativas. Weiss (1973), com recurso à Teoria das Necessidades Sociais, define a solidão como reação a uma carência de relação, originando um desejo de relação (Cassidy e Berlin, 1999) e distingue dois tipos de solidão: solidão emocional e solidão social. A solidão emocional considera a falta de uma relação de verdadeira intimidade, onde as emoções predominantes nos sujeitos que manifestam este tipo de solidão são: sentimentos de ansiedade, vazio e completa solidão (Cassidy e Berlin, 1999). Em solidão social, o indivíduo sente-se insatisfeito e só, por causa da falta de uma rede de amigos ou pessoas conhecidas. (Weiss, 1973)


Mas, viver só e solidão, são conceitos diferentes (Townsend e Tunstall 1968), já que ter uma rede de relacionamentos mais alargada não previne sentimentos de solidão, e se, o envelhecimento pode conduzir a maior isolamento, não significa que este seja a causa do isolamento (Carneiro et al, 2012). Os idosos preocupam-se principalmente com a saúde, mas no fundo, todos desejam viver o melhor possível (Castellón, 2003), o que indica que “se por um lado é importante remediar as privações e melhorar o bem-estar material dos idosos (sobretudo daqueles que na comunidade vivem pior), é igualmente necessário e não menos importante proporcionar oportunidades para que as pessoas idosas possam entrar em relação com terceiros e encontrar outras pessoas em quem possam confiar. O estabelecimento de relações de confiança surge, efetivamente, como o melhor antídoto para combater o sentimento de solidão que, independentemente do contexto onde se vive, espreita por detrás do isolamento físico ou geográfico, de um estilo de vida solitário, de uma doença grave ou incapacitante, de uma perda, da morte iminente ou, simplesmente, da dificuldade em exprimir sentimentos acerca da respetiva condição de vida” (Fonseca, 2004:210). Associar qualidade de vida ao envelhecimento, aponta para indicadores que a podem medir, tais como: bem-estar subjetivo (físico, material, social, emocional), autonomia, atividade, índices materiais e recursos económicos, saúde, habitação, intimidade, segurança, lugar na comunidade, relações pessoais. (Castellón, 2003)


Quanto ao isolamento social, Naufal (2008) explica-o como a ausência de uma medida objetiva de integração social, ou estado objetivo de ter o mínimo de contato e interação com os outros, e um baixo nível de envolvimento na vida da comunidade, enquanto que Findlay e Cartwright (2002) explicam este conceito por via de duas componentes: poucas inter-relações sociais combinadas com a experiência da solidão. Desta forma, o conceito de isolamento social remete para a integração de uma pessoa e/ou grupo num contexto social, incluindo dados objetivos (número, tipo e duração de contactos entre indivíduos e meio social envolvente), sendo a rede social do indivíduo um indicador importante. (Wenger et. al 1996).


"A sociedade não acolhe nem reconhece a expressão das capacidades dos idosos e impede que as potencialidades de desenvolvimento ocorram. O equilíbrio próprio da população mais idosa é ameaçado pela impossibilidade de encontrar formas significativas de integração na ordem cultural actual. Isto é, encontrar um lugar significativo para o próprio ser valorizado ou validado socialmente" (Novo, 2003:586).


Fomentar a solidariedade intergeracional é contribuir para o desenvolvimento social sustentável, edificando sociedades coesas e sustentáveis, com relações equilibradas entre gerações e encorajando a solidariedade intergeracional para o desenvolvimento de todo o potencial de realização da experiência humana nos vários estádios da vida. (Carneiro et. al, 2012)


Sibila Marques (2011), na sua obra “Discriminação da Terceira Idade”, alude ao idadismo, sob as suas atitudes negativas baseadas somente na idade (existe contra diferentes grupos etários), entramos no campo dos direitos humanos fundamentais, uma vez que o idadismo atenta contra o princípio da não discriminação. Os estereótipos criados neste caso, suportam-se na crença e tendência de homogeneização de um determinado grupo, de uma determinada idade, por via de traços negativos (incapacidade e doença), e sentimentos preconceituosos em relação ao grupo etário (desdém, piedade, paternalismo). Por sua vez, a discriminação, alcança uma componente comportamental relacionada com o próprio ato de discriminação (abuso e maus tratos, negação de um benefício ou direito). Em reforço das práticas intergeracionais, salienta-se que estas promovem a diminuição do idadismo, num contacto positivo entre idosos e outras gerações, em contributo de uma mudança nas representações associadas ao envelhecimento e à forma como são encaradas as relações entre as diferentes gerações. Estas práticas intergeracionais apoiam ainda os idosos em risco de exclusão social e solidão, no alcance de valorização pessoal, por via da sua participação em atividades (Hatton-Yeo et. al, 2000), protegendo-os também da ameaça do estereótipo negativo “idoso” (pouca competência) e melhorando a sua performance cognitiva (Abrams et al, 2008).


Para Galante (2013), falar de sociabilidades implica falar da cidade como espaço facilitador de troca e interação entre pessoas que passam, trabalham, ou vivem em meio urbano. Firmino da Costa (2008), refere que os hábitos e costumes dos habitantes devem ver-se segundo o contexto e ambiente envolvente, produtores de práticas sociais, identitárias e com simbolismo social. Cada espaço detém as suas particularidades sociais e urbanas e a morfologia da cidade é facilitadora de interações e relações sociais em espaços de convívio, sítios de vizinhança, redes sociais e outros espaços de interação local (pracetas, largos e escadinhas), que proporcionam encontros e interação entre as pessoas, e a criação de laços de proximidade e confiança. As relações estabelecidas são essenciais na vida social da população residente, seus padrões de cultura e formas culturais produzidas, no âmbito da sociabilidade de vizinhança e da vida associativa. Estas redes sociais de vizinhança são mais consistentes que outro tipo de redes sociais, determinando relações entrecruzadas, reforçadas pela proximidade e pela interação frequente entre as pessoas. Desta forma, as relações de proximidade e de confiança estabelecidas na cidade e envolvência do espaço habitado, são uma parte integrante da história, trajetória e percurso de vida dos habitantes, proporcionando-lhes identidade própria e representação social.


“(…) para poderem ser sustentáveis, as cidades têm de providenciar as estruturas e os serviços que permitem o bem-estar e a produtividade dos seus habitantes. As pessoas mais velhas, em especial, têm necessidade de viver em meios envolventes que lhes proporcionem apoio e capacitação, para compensar as mudanças físicas e sociais associadas ao envelhecimento (…) as cidades mais amigas dos idosos são uma resposta necessária e lógica, que permite a promoção do bem-estar e o contributo dos habitantes urbanos e ainda manter as cidades prósperas.” (OMS, 2007:4)


Bibliografia


Abrams, Dominic, et. al (2008), "Threat inoculation: experienced and imagined intergenerational contact prevents stereotype threat effects on older people's math performance.", Psychology and aging , 23(4): 934-939

Ano Europeu do Envelhecimento Ativo e da Solidariedade entre Gerações, Programa de Ação, 2012, Portugal, Eurocid, disponível em: http://www.eurocid.pt/pls/wsd/wsdwcot0.detalhe_area?p_cot_id=7271, consultado em 26-05-2016


Berguno, George, et. al (2004), "Children's experience of loneliness at school and its relation to bullying and the quality of teacher interventions." The Qualitative Report,, 9(3): 483-499


Carneiro, Roberto, et. al (2012), O Envelhecimento da População: Dependência, Activação e Qualidade, Relatório Final, Lisboa, Centro de Estudos dos Povos e Culturas de Expressão Portuguesa , Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa


Cassidy, Jude e Lisa Berlin (1999), “Understanding the Origins of Childhood Loneliness: Contributions of Attachment Theory”, em Rotenberg, Ken e Shelley Hymel (Eds). Loneliness in Childhood and Adolescence


Castellón, Alberto (2003), “Calidad de vida en la atención al mayor”, Revista Multidisciplinar de Gerontología, 13(3):188-192


Costa, António Firmino (2008), Sociedade de Bairro: Dinâmicas Sociais da Identidade Cultural, (2.ª ed.) (Neighbourhood Society: Social Dynamics of Cultural Identity)

Costa, Maria Arminda (2002), Cuidar idosos: Formação, prática e competências dos enfermeiros, Coimbra, Formasau


Findlay, Robyn e Colleen Cartwright (2002), Social isolation and older people: a literature review, Brisbane, QDL Australia, Ministerial Advisory Council on Older People


Galante, Marisa Cristina S. (2013), Envelhecimento e sociabilidades nos espaços da cidade: modos de romper a solidão, Dissertação de Mestrado em Gerontologia Social, Lisboa, Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, (online), acedido em 31-03-2016, disponível em: http://recil.grupolusofona.pt/handle/10437/5396


Naufal, Roland e Gerry Naughtin (2008), “Social isolation amongst older Victorians, A literature review of causes and interventions”, Report prepared for the Office of Senior Victorians, Brotherhood of St Laurence


Novo, Rosa (2003), Para além da eudaimonia. O bem-estar psicológico em mulheres na idade adulta avançada, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian


Organização Mundial de Saúde (2007), “Guia Global das Cidades Amigas das Pessoas Idosas”, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian


Paillat, Paul (1986), Vieillissement et vieillesse, Paris, Presses universitaires de France, 1 (2)


Peplau, Letitia Anne, Maria Miceli, e Bruce Morasch (1982), "Loneliness and self-evaluation.", Loneliness: A sourcebook of current theory, research and therapy, 135-151


Pinheiro, Ângela e Álvaro Tamayo (1984), “Conceituação e definição de solidão”, Revista de Psicologia, 1(2):29-37, disponível em: http://www.repositorio.ufc.br/handle/riufc/10614


Sibila Marques (2011), Discriminação da Terceira Idade, FFMS e Relógio d'Água


Townsend, Peter e Sylvia Tunstall (1968), “Isolation, desolation and loneliness.”, em

Shanas, Ethel, et. al (eds) Old People in Three Industrial Societies


Weiss, Robert S. (1973). Loneliness: the experience of emotional and social isolation, Cambridge, MIT Press


Wenger, G. Clare et. al (1996),” Social isolation and loneliness in old age: review and model refinement”, Ageing and Society Society, (6):333-358



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