O Serviço Social Internacional
- Fátima Garcia
- 20 de jun. de 2016
- 4 min de leitura

Gray e Fook (2004) alegam que, a colaboração internacional no crescimento do Serviço Social como profissão em diferentes países é reconhecida, contudo, independentemente do admirável crescimento do Serviço Social no mundo e dos esforços da Associação Internacional de Escolas de Serviço Social e da Federação Internacional de Assistentes Sociais, em promoção de uma maior sensibilização internacional, a profissão não respondeu adequadamente aos desafios e oportunidades da nova era global. Atividades internacionais em Serviço Social casuais e descoordenadas, bem como a ausência de tentativas sistemáticas de internacionalização da profissão, dificultam seriamente a capacidade do contributo significativo do Serviço Social a nível internacional. (Midgley, 2001)
Para Healy (1995), independentemente da importância da perspetiva internacional no mundo globalizado de hoje, as escolas de Serviço Social não se adequaram expondo os alunos a conteúdos internacionais. Midgley (1992) e Hokenstad e Kendall (1995) numa visão mais otimista, indicam que as trocas de conhecimento internacionais existem, e que hoje, mais Assistentes Sociais estão cientes dos eventos internacionais, mas, contudo, poucos estão informados sobre a evolução profissional noutros países, porque maioritariamente se preocupam com as questões da prática local, detendo pouca compreensão das tendências ou preocupações globais, sendo que, contrariamente a muitos outros campos profissionais e académicos, o Serviço Social negligenciou a investigação comparativa e pouco tem vindo a ser feito para a replicar, testar e adaptar às inovações da prática noutras sociedades. (Hokenstad, Khinduka e Midgley,1992).
Hessle (2000, citado por Gray e Fook, 2004), por seu turno, refere que ao observar a tensão entre a unificação e a diversificação na Europa, por um lado existem aqueles que acreditam que é importante unificar o Serviço Social criando normas de educação global facilitadoras da comunicação entre as universidades e a formulação de critérios comuns de avaliação para o Serviço Social na prática em diversos contextos, e por outro há aqueles que atentam às tradições socioculturais e fatores contextuais para criar formas de prática em Serviço Social, políticas sociais e métodos exclusivos para determinadas regiões e localidades. Lorenz (2001) no seu trabalho, sugeriu uma sequência de três dimensões ao longo da qual o Serviço Social pode ser posicionado, nomeadamente relações com o estado, graus de profissionalização e status académico e dimensões enquadradas na visão ocidental de Serviço Social dentro de um modelo profissional. Contudo, existem outras dimensões também negligenciadas, como por exemplo, o grau onde os valores do Serviço Social se encaixam, o Serviço Social num contexto de eficácia na satisfação da necessidade humana e a extensão da contribuição do Serviço Social para a melhoria social. Paralelamente, a história do Serviço Social ancorada a instituições de bem-estar social na maioria dos países ocidentais, motiva a argumentação de que esta ligação com responsabilidade estatutária tem dificultado a sua reforma e mudança social, impelindo ao controle social e apoio do “status quo”. (Gray e Fook, 2004:629)
Embora as tendências nos últimos anos, apontem o Serviço Social Internacional como uma profissão de direitos humanos numa escala global, ambicionando a construção de um projeto global para o Serviço Social, trata-se ainda de tentativas apenas (Midgley, 2001, Payne e Askeland, 2008; Webb, 2003). E, independentemente do aumento do número de escolas e profissionais a nível mundial (Midgley, 2001), e das atividades laborais desenvolvidas por assistentes sociais em instituições e organizações internacionais, da participação em visitas e conferências internacionais, da presença de organizações que insinuam a existência de um Serviço Social Internacional, expandidas pela International Federation of Social Work (ISFW) e a International Association of Schools of Social Work (IASSW), na verdade, são “poucas pessoas que estão ativamente envolvidas na prática do Serviço Social Internacional” (Payne e Askeland,2008:6), sendo que, a internacionalização dos problemas sociais e a consequente intervenção do Serviço Social sobre elas, não confirma por si só o termo “Serviço Social Internacional”, pois não existem evidências de convergência e padronização de práticas coletivas e internacionais. (Web, 2003)
Bibliografia
Gray, Mel e Jan Fook (2004), "The quest for a universal social work: Some issues and implications.”, Social Work Education, 23(5): 625-644
Healy, Lynne M. (1995), "Comparative and international overview.", em Thomas D. Watts, Doreen Elliott and Nazneen Sada Mayadas (eds), International Handbook on Social Work Education, Westport, Greenwood Press, 421–440
Hessle, S. (2000), “Features of social work development in Europe”, paper presented at the International Social Work Conference, Ho Chi Minh City, 18–20 December 2000
Hokenstad, M. C. e Katherine A. Kendall (1995), “International Social Work Education”, em National Association of Social Workers, Encyclopedia of Social Work, pp. 1511–20. Washington, NASW Press.
Hokenstad, M. C., Shanti K. Khinduka e James Midgley, (1992), “The World of International Social Work”, em M. C. Hokenstad, Shanti K. Khinduka e James Midgley (eds), Profiles in International Social Work, Washington, NASW Press, 1–10
Lorenz, Walter (2001), “Social work in Europe: portrait of a diverse professional group”, em International Standard Setting of Higher Social Work Education (ed.), S. Hessle, Stockholm Studies on Social Work, Stockholm University, Department of Social Work, 17
Midgley, James (1992), “The Challenge of International Social Work”, em Merl C. Hokenstad, Shanti K. Khinduka e James J. Midgley (eds), Profiles in International Social Work, Washington, DC: NASW Press, 13–28
Midgley, James (2001), “Issues in international social work resolving critical debates in the profession”, Journal of Social Work, 1(1): 21-35
Payne, Malcolm e Gurid Aga Askeland (2008), Globalization and International Social Work: Postmodern Change and Challenge, Burlington, EUA, Ashgate
Webb, Stephen (2003), "Local orders and global chaos in social work.", European Journal of Social Work, 6(2):191-204
By © Fatma - Porta Portuguesa
Comments