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Efeitos da Globalização na Prática Profissional d@s Assistentes Sociais

  • Fátima Garcia
  • 20 de jun. de 2016
  • 5 min de leitura

Para Dominelli (2010) e Iamamoto (2001) a globalização afeta a prática profissional devido aos graves problemas sociais a si inerentes, bem como, pelas profundas alterações na regulação social das sociedades contemporâneas. A crise do welfare state, intensificada no contexto de globalização, reduziu a universalidade dos serviços sociais, acentuou a privatização, tornou seletivas as políticas sociais, sendo que estas mudanças produzem seus efeitos nos utentes do Serviço Social. Replicando um modelo de gestão empresarial para o exercício dos serviços sociais, burocratiza-os, reduz os seus recursos humanos e introduz critérios de avaliação inflexíveis e autoritários (new accountability, conduzindo parte do trabalho dos assistentes sociais a tarefas estatísticas e organizativas, retraindo a disponibilidade para a dimensão do cuidar, apanágio central e histórico da profissão. (Queiroz, (s.a.)


Numa dimensão mais descritiva, e ainda sob o pensamento de Queiroz (s.a.), a globalização ingressou o dia-a-dia de cidadãos e profissionais, reformando as experiências das pessoas sob uma uniformização global capitalista. Alterou o processo de trabalho na prática profissional, transmitindo ao interior dos serviços sociais métodos da produção industrial, e modificou também, a natureza das relações sociais. O Estado internacionalizou-se, o seu grau de autonomia nacional limitou-se, volveu-se um instrumento de produção dos ajustamentos estruturais respeitados como indispensáveis na competição mundial, a força do trabalho tornou-se mais flexível, o trabalho mais precário e o desemprego um problema estrutural. O Estado passou desta forma, a representar um instrumento de regulação da produção de mais-valia a nível internacional, sabendo-se que os processos acima referidos incitam ao agravamento da pobreza, exclusão social e potencializam desigualdades entre ricos e pobres. Esta ideologia de mercado ultrapassou a ideologia da solidariedade e a justiça social, promovendo-se a internacionalização dos problemas sociais, num aumento da pobreza, no mesmo país e entre países, transferindo problemas sociais duns países para outros, de uma parte do planeta para a outra. No fundo, a globalização beneficiou o crescimento dos países industrializados e exaltou a sequência de crises em países de desenvolvimento económico principiante e dependente (riscos ambientais, financeiros, demográficos e políticos), instigando a efeitos arrasadores em países e populações mais pobres. Criou desigualdades entre Norte e Sul instigou a problemas por via de movimentos migratórios (em resposta à degradação ambiental, exclusão económica e violência), mudanças tecnológicas (que exaltaram novas formas de exclusão, a exclusão digital), crescimento da população e rápido envelhecimento (principalmente nos países ocidentais), crescimento urbano e degradação urbana, seguida por disparidades urbanas rurais.


Relativamente à dimensão controladora e punitiva das políticas sociais, Dominelli (2004), alude ao Punitive Welfarisme, referindo o espírito controlador das variadas medidas políticas fundamentadas pelo pressuposto de que os beneficiários usam os fundos públicos em seu benefício, não querendo abdicar deles, enquanto que os estudos sobre o tema, revelam que maioritariamente, os beneficiários optariam por um emprego pois valorizam a dignidade do trabalho, em confronto ao estigma de pertença ao sistema de assistência social.


Assim, segundo Iamamoto (2012:160), ”(…) É na tensão entre a reprodução das desigualdades e a produção da rebeldia e resistência que actuam os assistentes sociais, situados em um terreno movido por interesses socias distintos e antagónicos, os quais não são possíveis de eliminar, ou deles fugir porque tecem a vida em sociedade. Os assistentes sociais trabalham com as dimensões da questão social tal como se expressam na vida dos indivíduos sociais, a partir das políticas socias e das formas de organização da sociedade civil”. Desta forma, é essencial compreender as novas expressões da questão social, entendendo os manifestos atuais de desigualdade social, para acelerar modos de resistência e de defesa da vida. Estas formas de resistência já fazem parte do quotidiano dos grupos dependentes do trabalho para sobreviver, sendo, contudo, necessário conciliar essas formas de sobrevivência em resistência à opressão, reinventando movimentos sociais resistentes às formas de opressão imperialistas do quotidiano das populações contemporâneas.


Desta forma, prosseguindo no pensamento de Iamamoto (2001), o agir profissional implica a compreensão das manifestações da questão social contemporânea e níveis dessa compreensão, à parte os contornos da mudança na forma de produção social (supremacia do capital financeiro, aliança com o capital industrial, novos modelos de acumulação e gestão do trabalho, etc.), sendo indispensável apreender a forma como as pessoas vivem as manifestações da questão social. Esta condição impõe a perceção das condições de vida, expectativas, necessidades sentidas, aspirações, modos de sobrevivência e resistência, permitindo o corte com a relação tutelar e de distanciamento com a população. Dominelli (2004) reforça o exposto, quando define o Serviço Social como prática de envolvimento com as pessoas, numa base interativa, que faz do Serviço Social uma profissão relacional, onde Assistentes Sociais e utentes comparticipam na composição de outros relatos que possibilitam novas perspetivas de ação.


Noutra vertente, Iamamoto (1996:12) e Montaño (1997:12) alegam que a privatização das políticas públicas reduz o campo de atuação do Serviço Social, redimensionando as suas funções, numa “refilantropização do Serviço Social”, por via de práticas descoordenadas de assistentes sociais que tendencialmente intervêm cada vez mais em instituições privadas, aliadas às políticas sociais fragmentadas dessas organizações, complexificando o impacto das ações a nível nacional (Montaño,1997), e onde, sob uma máscara humanitária acompanhada de fortes apelos à solidariedade social” (Iamamoto, 1996: 12), da parte dos governos, ressurgiram práticas caritativas e filantrópicas num ensaio de regresso profissional às suas origens (Guerra, 2001). A redução dos serviços sociais consagrados aos organismos públicos, a transferência do campo profissional de Serviço Social para o setor privado (Iamamoto, 1996; Montaño, 1997; Mouro, 2009), a desfragmentação dos paradigmas e valores clássicos base do Serviço Social, o restabelecimento das lógicas profissionais e a reanálise dos conceitos de exclusão, as novas competências profissionais essencialmente na área da gestão e organização de equipamentos e coordenação de projetos sociais (Mouro, 2009), as práticas burocráticas e managerialistas reguladas pela eficiência e eficácia dos resultados em prejuízo de práticas relacionais e humanitárias (Amaro, 2009; Dominelli, 2004; Iamamoto, 1996; Mouro, 2009; Noble, 2004), e a dependência e substituição da intervenção profissional de/pelo voluntariado (Guerra, 2001; Noble, 2004) permitem que o Serviço Social padeça de uma "desprofissionalização" (Amaro, 2009; Dominelli, 2004; Iamamoto, 1996; Midgley, 2001), numa perda de controlo sobre o seu objeto de intervenção por via das persistentes fragmentações ao longo do processo de globalização. (Ramalho, 2012)


Bibliografia

Amaro, Maria Inês (2009), “Identidades, incertezas e tarefas do Serviço Social contemporâneo.”, Locus Social, Lisboa, 2:29-46


Dominelli, Lena (2004), Social Work, Theory and Practice for a Changing Profession, Polity Press


Dominelli, Lena (2010), Social Work in a Globalizing World, Polity Press


Guerra, Yolanda (2001), ”As racionalidades do capitalismo e o Serviço Social.”, em Helena Mouro e Dulce Simões, (Orgs.), 100 anos de Serviço Social, Coimbra, Quarteto


Iamamoto, Marilda (1996), “O Serviço Social na contemporaneidade: os fundamentos teórico-metodológicos e técnico-operativos do trabalho profissional”, em António Gil (Org.), Metodologias e técnicas do Serviço Social, Brasília, CNI/Sesi


Iamamoto, Marilda Villela (2001), O Serviço Social na Contemporaneidade: Trabalho e Formação Profissional, São Paulo, Cortez


Iamamoto, Marilda Villela (2012), Serviço Social em tempo de Capital Fetiche. Capital Financeiro, Trabalho e Questão Social, São Paulo, Cortez


Midgley, James (2001), “Issues in international social work resolving critical debates in the profession”, Journal of Social Work, 1(1): 21-35


Montaño, Carlos (1997), “O Serviço Social frente ao neoliberalismo: mudanças na sua base de sustentação funcional-ocupacional”, Serviço Social & Sociedade, São Paulo, 53


Mouro, Helena (2009), Modernização do Serviço Social: da sociedade industrial à sociedade do risco, Coimbra, Almedina


Noble, Carolyn (2004),” Postmodern thinking: where is it taking social work?”, Journal of Social Work, 4(3):289-304


Queiroz, Maria José (s.a.), “Contextos Contemporâneos da Prática. Questionamentos e propostas

Críticas do Serviço Social. Pistas para uma prática do Serviço Social a nível internacional”, Centro Português de Investigação em História e Trabalho Social


Ramalho, Nélson Alves (2012), “Processos de globalização e problemas emergentes: implicações para o Serviço Social contemporâneo.”, Serviço Social e Sociedade, (online), 110:345-368, disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S0101-66282012000200007




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