A INVESTIGAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL
- Fátima Garcia
- 18 de jan. de 2016
- 3 min de leitura

Para Fraga (2010), é a atitude investigativa no quotidiano de trabalho do assistente social que possibilita uma ação profissional reflexiva intencional e planeada; esta ação planeada orienta para ações intencionais e cheias de sentido que alertam para a “pseudonaturalidade” das injustiças sociais acomodadas, naturalizadas e banalizadas. Esta ação do assistente social deve traduzir-se na equação de: “postura investigativa + intervenção profissional + interdisciplinaridade = ação profissional com alcance social e mediada pela intervenção nas diversas manifestações da questão social”. Por outro lado, o Serviço Social como profissão investigativa e interventiva deve analisar os seus estudos e pesquisas a partir de situações concretas e com utilidade social, descartando o conhecimento apenas com “finalidade descritiva e contemplativa. (Fraga, 2010:46-60)
Em Ferreira (2014a), as mutações da sociedade contemporânea decretam a investigação em Serviço Social como caminho de descodificação da realidade social na sua complexidade, configurando respostas apropriadas à intervenção e Carvalho (2014), assinala as décadas de 1990 e de 2000, como áureas na investigação em Serviço Social; olhando o Serviço Social como profissão não apenas interventiva, mas também produtora de conhecimento por via do reconhecimento da licenciatura e formações pós-graduadas (mestrados e doutoramentos), os cursos não bastam para a produção de investigações. É necessário que as escolas, institutos e universidades coliguem a formação a centros de investigação e produção científica, difundindo essa produção. A prática profissional também carece de investigação para sua reflexão e renovação, unindo em rede universidades, docentes e investigadores em Serviço Social e organizações, entidades públicas e privadas, para cooperação no desenvolvimento de práticas e investigações colaborativas: “comunidades de práticas”. (Martins, 1999, citada por Carvalho, 2014:330)
O trabalho colaborativo acima referido apresenta vantagens na resposta aos objetivos do ensino, empregadores e profissionais de serviço social; identicamente o trabalho em parceria, exibe benefícios na conjunção ensino/investigação e prática, já que consente a elaboração de procedimentos para que o Serviço Social defronte os desafios, crises e problemas da sociedade (Wilson, 2014, citado por Carvalho, 2014). “(…) o conhecimento não é um estado, mas um processo, a renovação e inovação em Serviço Social é um dever ético, exige permanente reflexão e “abordagens ativas e criativas (distribuidoras de poder) face aos desafios que a realidade lhe coloca e incita à abertura a diferentes teorias, metodologias e temas de investigação onde os profissionais concretizem a investigação nas suas práticas”. (Carvalho, 2014:330). “(…) conhecimento do carácter é mais do que saber se o homem é um bêbedo ou a mulher desonesta. É o conhecimento das paixões, esperanças, a história da pessoa, em relação às tentações que a assaltam; como planearia a sua vida se fosse apoiada; qual a sua experiência; como mobilizá-la, alcançá-la e ensiná-la”. (Vieira, 1981, citada por Mouro, 2004:102)
Carvalho (2014), aponta o (ir)reconhecimento da área do saber em Serviço Social pela Fundação de Ciência e Tecnologia (FCT), quando da submissão de projetos de investigação; ainda que aprovados e financiados alguns projetos de doutoramento, estes foram submetidos noutras áreas disciplinares. A adesão dos assistentes sociais aos centros de investigação também é débil, bem como a frágil cultura de partilha do conhecimento (publicações), alimenta o (ir)reconhecimento e impede a produção de consensos investigativos no âmbito das metodologias de intervenção (etnografia, estudos de caso, investigação ação), em que a participação dos sujeitos é fundamental para o serviço social (imperativo ético). A questão da maioria da população alvo da pesquisa em Serviço Social ser também alvo da intervenção, categorizada em “grupos particularmente vulneráveis” (crianças, grávidas, pessoas idosas, deficientes, prisioneiros, vítimas, doentes, doentes terminais), também é polémica, erguendo-se a necessidade de garantia das questões éticas e inexistência de conflitos de interesses entre investigadores e interventores (Carvalho, 2014:332).
Para Branco (2008), os programas de mestrado e de doutoramento embora aportem novas oportunidades para a investigação e transmissão do conhecimento do Serviço Social em Portugal, englobam os interesses do mercado da educação superior em Portugal, este é desregulado e como tal, por existirem não significa mais qualidade e crescimento científico na área; desde a criação dos planos de pós-graduação em Serviço Social até 2003, 83% da produção de trabalhos de mestrado e doutoramento em Serviço Social foi da autoria de docentes na área e 26% concretizada por profissionais não docentes, embora nos cursos de mestrado mais recentes imperem autores externos à docência e investigação académica.
Figura 1- Unidades de Investigação em Serviço Social formalmente constituídas em Portugal, 2008

Fonte: Branco, Francisco (2008), “A investigação em Serviço Social em Portugal: trajectórias e perspectivas”, Locus Soci@l, (Online), 1, 58
Legenda: N.D. — informação institucional não disponível
A acrescentar à fraca produção de saber disciplinar em Serviço Social, constata-se que nos trabalhos de investigação concretizados em pós-graduações em Serviço Social, (63,6%) abordam temas no campo das políticas sociais e apenas (36,4 %) perfilharam temáticas respeitantes ao Serviço Social. (Branco, 2008)
Figura 2- Eixos Temáticos da Pesquisa de Pós-Graduação em serviço social em Portugal, 1990-2003

Fonte: Branco, Francisco (2008), “A investigação em Serviço Social em Portugal: trajectórias e perspectivas”, Locus Soci@l, (Online), 1, 56
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